Vindima 2021. Uma experiência memorável

01 fevereiro 2022

É a regra, não existe uma vindima que se repita. Cada ano, uma colheita diferente. 2021 foi memorável, pelas condições desafiantes que apresentou e pela aprendizagem que significou. As exigências colocadas ao longo do ano, nomeadamente devido à imprevisibilidade climática, colocaram as equipas sempre em sentido, obrigando a grande agilidade na capacidade de resposta, não apenas na viticultura, mas também na colheita. No final, os vinhos em adega mostram-se promissores, expressando já os atributos de frescura e elegância que são característicos do terroir do Vale do Távora

Relatório de vindima

Em termos climáticos, o ano foi muito instável. No final de 2020, apesar de um mês de dezembro  bem frio, o inverno foi mais quente - e até chuvoso - do que o habitual. Tivemos também em 2021 o fevereiro mais quente desde 1931, com chuva intensa, e depois uma primavera seca, que em maio viria a alterar-se, surpreendendo com chuvas fortes, trovoadas e ventos (condições que voltaram no início do verão). Julho foi fresco, agosto mais quente, depois setembro apontava para uma certa normalidade mas... a chuva chegou cedo e intensa.

A instabilidade do clima, no inverno e na primavera, trouxe uma grande heterogeneidade à evolução da vinha, com o início do ciclo vegetativo, e depois a floração e o pintor, a registarem-se em tempos diferentes em muitas das nossas parcelas. Em sequência, a fase final de maturação foi observada com grande atenção, em busca dos timings perfeitos, isto é, do compromisso perfeito entre açúcares e a acidez. Foi um desafio enorme, sobretudo depois da chegada das águas de setembro. Aí, parte dos nossos tintos ainda não estava colhida, pelo que foi necessário vencer os constrangimentos da chuva e da humidade, aguardando que a fruta amadurecesse da melhor forma possível.

A seleção de uvas feita logo na colheita, descartando qualquer cacho com sinais de degradação, acabou por não ser significativa. No balanço final, a vindima de 2021, realizada entre 10 de Setembro e 12 de Outubro, registou um crescimento de produção significativo, na ordem dos 34%, o que veio atestar a qualidade da intervenção realizada na viticultura, ao longo do ano, bem como a resiliência da própria vinha.

Agora, os vinhos em adega mostram uma boa evolução. Temos dentro de portas lotes de vinho DOC, brancos e tintos, muito interessantes. A instabilidade climática acabou por refletir-se mais na maturação das uvas destinadas aos generosos, mas também estes já estão a seguir o seu estágio e uma evolução que, naturalmente, será mais longa. Mas tanto nos vinhos do Porto como DOC Douro, os traços característicos do nosso terroir – frescura e elegância – já se provam e evidenciam nesta altura.

Segue agora o trabalho na adega. E aguarda-se já com expetativa o início do ciclo de 2022.

 

Maria Susete Melo

(Diretora de viticultura e enologia)