Christoph Kranemann. Uma história de enamoramento pelo Douro e pela Quinta do Convento de São Pedro das Águias

23 julho 2019

Acompanhamos Christoph Kranemann numa entrevista pelos claustros da Quinta do Convento de São Pedro das Águias, no vale do Távora. Enquanto conversamos, o seu olhar é de permanente contemplação. Podia ter apostado em fazer vinho em qualquer sítio do Mundo, até o considerou na Austrália, mas quando se lhe pergunta “porquê aqui?”, a resposta é acompanhada de um olhar ainda mais apaixonado. “Já viu um sítio mais perfeito do que este?”

Lembra-se da primeira viagem a Portugal?

A primeira vez que vim a Portugal foi nos anos 90, a propósito de uma conferência médica no Algarve. Foi mais ou menos nessa altura da minha vida que comecei a interessar-me mais por vinho, sobretudo após uma outra viagem à Austrália no final dessa década, um país onde acabei por visitar umas 200 adegas, por curiosidade. Enfim, o que fazer na Austrália, visitar o “outback” e ser mordido por um animal qualquer, ou descobrir vinhos? (risos). Eu escolhi sempre a segunda opção...

E qual é o seu primeiro contacto com os vinhos portugueses?

Quando conheci a minha mulher, Dina, comecei a despertar mais interesse pelos vinhos portugueses. Isso foi por volta de 2004. O primeiro vinho que me marcou muito, mesmo muito, foi um Barca-Velha que abrimos num jantar, num restaurante de Lisboa chamado Pabe. Lembro-me perfeitamente. Esse vinho estava simplesmente brilhante, nunca mais me saiu da memória... À medida que fui viajando com mais frequência para Portugal, fui naturalmente aprofundando o conhecimento pelos vinhos locais. Lembro-me de uma visita à Quinta do Crasto, aqui no Douro, onde estive num jantar mágico e se abriram umas garrafas antigas de Porto simplesmente fabulosas.

Quando descobre a Quinta do Convento de São Pedro das Águias?

A Quinta do Convento só a descobri muito mais tarde, numa conversa fortuita, quando um amigo comentou que conhecia alguém interessado em vender uma quinta fantástica no Norte de Portugal. Claro, eu fiquei interessado em saber o que seria; depois de cá vir a primeira vez acabámos por fechar negócio.

E porquê a Quinta do Convento de São Pedro das Águias? Sente-se bem aqui?

Existe sítio mais perfeito do que este? As vinhas, o rio, toda esta paisagem fantástica... A arquitetura... Tenho raízes alemãs e sempre me interessei muito por arquitetura e história. Então este convento do século XII, com estes claustros e toda esta memória, é uma espécie de sítio perfeito, que reúne aquilo de que mais gosto. É um sítio mágico!

Qual é a visão que tem para o projeto Kranemann Wine Estates?

Queremos ser um projeto de referência que, através dos vinhos e do Enoturismo, possa ajudar a identificar e a dinamizar esta região tão particular que é o Tabuaço e o Vale do Távora. Isso vai conseguir-se, potenciando aquilo que temos aqui de muito especial: esta altitude, a frescura, os solos de xisto e granito... À medida que fui construindo mais interesse por vinhos, comecei também a estar mais atento a questões como o terroir, a geologia, o comportamento de diferentes castas em diferentes solos, e aqui encontramos um património muito interessante, que nos permite fazer vinhos com um perfil muito especial. Portugal e o Douro são donos de uma riqueza e de uma originalidade impressionantes, que muito aprecio, não apenas nos vinhos de mesa, mas também nos vinhos fortificados. Poder trabalhar esta riqueza é um enorme privilégio e oportunidade.