"Casta a Casta" Abril é o mês do Bastardo — uma tinta rara, precoce e cheia de carácter

29 abril 2025

Entre os muitos tesouros que a viticultura portuguesa preserva, o Bastardo destaca-se pela sua singularidade. Conhecida internacionalmente como Trousseau, esta casta de origem francesa encontrou em Portugal, e particularmente no Douro, um dos seus palcos mais expressivos.

Trata-se de uma variedade de maturação extremamente precoce, por vezes colhida até quinze dias antes de outras tintas. Esta precocidade, aliada a um perfil rústico e boa adaptação regional, permite-lhe expressar-se com intensidade mesmo em condições desafiantes. Prefere solos profundos, secos e quentes, adaptando-se bem à maioria dos sistemas de condução.

Os vinhos de Bastardo são imediatamente reconhecíveis pela sua cor granada translúcida, pouco habitual nos tintos da região, e por uma elegância aromática que seduz desde o primeiro contacto. Notas de groselha, amora e outras bagas silvestres dominam na juventude, evoluindo depois para registos mais complexos, com nuances de fumo, café, erva seca, ameixa seca e tabaco. Curiosamente, ao longo de um envelhecimento prolongado, podem surgir notas de madeira, mesmo sem estágio em barrica — reflexo da riqueza e profundidade da casta.

Embora muitas vezes usada em lote, o Bastardo revela um enorme potencial enquanto monocasta, dando origem a vinhos nobres, sedutores e com uma frescura surpreendente. A sua acidez viva e taninos finos conferem-lhe grande aptidão gastronómica e capacidade de envelhecimento, tornando-o um trunfo para quem valoriza vinhos autênticos, expressivos e fora do comum.

Abril é o mês do Bastardo — e uma excelente oportunidade para redescobrir esta casta tão discreta quanto fascinante.