A Biodiversidade na Quinta do Convento de São Pedro das Águias

20 abril 2021

Depois de Tabuaço, já na freguesia de Távora, o caminho empedrado contornado pela mata imponente é só o primeiro sinal do espetáculo a que vamos. Quando saímos da estrada nacional 323, que nos traz do Douro, e entramos na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, as árvores centenárias dão-nos as boas vindas e servem como cortina de verde para o que explode depois: o convento e as vinhas; as cerejeiras e amendoeiras em flor; as laranjeiras ainda com alguma da fruta de inverno; as oliveiras que recuperam o vigor após o frio... e tudo se precipita, como que em camadas de beleza, pelo Vale do Távora abaixo, até ao rio com o mesmo nome.

A altitude é impressionante. E a beleza da paisagem, que o horizonte mostra cada vez mais grave e agreste, é sinal da biodiversidade que envolve a Quinta do Convento de São Pedro das Águias. A vinha, com um total de 47 hectares, surge enquadrada em mais 100 hectares de floresta mediterrânica indígena, com carvalhos, sobreiros e castanheiros que se impõe de forma natural, em ambiente totalmente selvagem, servindo de habitat para os mais variados animais, plantas e micro-organismos. Destacam-se as aves, desde logo porque se impõem aos sentidos: os pequenos passeriformes oferecem uma banda sonora permanente, enquanto prosseguem a sua busca diária pelas sementes e frutos que os alimentam; é primavera e as andorinhas seguem a sua azáfama; no alto, como vigias de todo o vale, pairam imponentes aves de rapina, como águias, milhares e abutres...

Por entre a vinha, como que ajardinando socalcos e patamares, e enquadrando caminhos de acesso, destacam-se as oliveiras. A cultura do olival, essencialmente espontânea, faz-se através da manutenção de 5.000 oliveiras. Mas, sobretudo na Primavera, a propriedade é todo um quadro florido, de cerejeiras e amendoeiras, flores e arbustos, que não só ajudam a formar o solo e a controlar a erosão, como servem de habitat e esconderijo para pequenos animais, insetos e organismos, que, por exemplo, ajudam ao controlo biológico de pragas e a promover a polinização.

A vinha, claro, agradece. Numa viticultura de intervenção mínima, a sustentabilidade da produção está desde logo dependente do equilíbrio do ecossistema. Os próprios muros de pedra, tão característicos no Douro, fazem muito mais do que suportar a implementação da vinha: são a casa de répteis e insetos cruciais para o ecossistema. A fauna e a flora que se estabelece de forma natural em torno das videiras acaba por ser benéfica. Até para o homem. Afortunadamente, trabalhar a Quinta do Convento de São Pedro das Águias pode ser, ao mesmo, experiência de birdwatching, de colheita de laranjas e cerejas – são famosíssimas as laranjas e cerejas da região – ou de fuga às corujas que pela noite surpreendem no convento...